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      fotografia composição

      Compor. Dispor. Com posição.

      Hoje o convite não vai aos olhos somente, mas aos ouvidos. Que também passeiam aos pares, estão logo ali.

      Gosto de pensar na composição das coisas. Vemos tudo junto. Fruto de pequenos pedacinhos de coisas. Composição química, elementos entrelaçados, comidas improvisadas… Ah, a música… Ela novamente exemplifica aquilo que não podemos somente ver.

      Compor. Sentir antes de mais nada, a essência de cada pedacinho das coisas. Tomar e tornar um caos para depois ter o prazer de arrumar, refazer, ou desarrumar mais ainda.

      Dispor. Improvisar e testar algo que não existe. Do caos à harmonia. Criar regras, aplicar regras. Só para ter o prazer de quebrar, recriar e contemplar.

      Composição. É montar. É brincar deliberadamente com os elementos.

      Na música, são notas, frases, melodias… Cada uma contribuindo com uma parte da brincadeira. Para entender, exercite. Destrua a música. Reconstrua ouvindo cada instrumento ou melodia… Ouça separadamente, tentando entender nessa “conversa”, o que cada um fala para o outro…

      Parece maluquice, e talvez até seja, tentar fazer essa ligação do visual com algo que existe somente no momento de sua execução. Isso mesmo, música é algo que só existe ao ser tocada. Em seu livro mais recente, “Como a música funciona”, David Byrne nos diz: “a música é intangível porque só existe enquanto está sendo assimilada, mas ainda assim é capaz de mudar profundamente a forma como vemos o mundo e o lugar que ocupamos nele”. Não adianta pensar nas partituras, discos ou mp3, são apenas formas de guardar… A música só existe, em essência, no ar… A música, é a experiência de ouvir.

      Um vinil que achei numa pausa dessas do dia, do “Dave Brubeck Quartet”, me chamou a atenção pela capa, era uma tela do pintor Juan Miró, 1925, e o disco, por acaso de jazz, chamava-se Time Further Out – Miro Reflections, é todo uma interpretação sobre essa obra de arte. Depois busquei conhecer melhor o quarteto e são vários LPs, sob o mesmo conceito. O efêmero representando o visual.

      Não se trata de gostar ou não de jazz. Gostar ou nãos de obras abstratas. A questão é refletir, ouvir com os olhos. Ver com os ouvidos curiosos por essa mágica decomposição dos elementos. Recompor em idéias na cabeça.

      Fotografia. Uma reunião dentro de um espaço recortado. Uma fixação de algo efêmero, um instante que foi, e agora é novamente recomposto. O fotógrafo é um compositor. Mesmo que inconscientes no momento do ato do clique, os elementos se fixam, a experiência do fotógrafo faz do improviso da vida, dos passos corridos, dos beijos trocados, uma nova melodia. Uma melodia que não é mais efêmera, passageira. Agora, uma experiência nova a cada um que olha o que o fotógrafo ouviu da vida.

      Em uma entrevista à revista Bons Fluídos, o músico Paulinho Moska nos brinda com vários alinhavos aos pensamentos que proponho aqui: “Compor é inventar sua própria realidade”. E mais adiante, complementa dizendo que “viver é inevitavelmente compor o tempo todo. Todos os dias cada um de nós está em processo de composição, juntando coisas de acordo com seu critério, que também vai se modificando pouco a pouco durante a vida. A vida de qualquer pessoa é uma obra de arte em processo”.

      Compor é rascunhar, várias vezes, testar e remontar. A composição não nasce pronta. Arte é o processo. É construir e destruir. Compor, dispor, nas devidas posições. Ouvir ou ver, na importa. Experimentar. Ouçamos mais a fotografia.

      Deixei as referências para o final, achei melhor compor assim dessa vez…

      Como a Música Funciona – David Byrne  [ Travessa ] [ Amazon ]

      Time Further Out (1961)  [ Youtube ]

      Outro excelente album do Dave Brubeck, At Carnegie Hall (1963) [ YouTube ]

       

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