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      Estava um sol danado lá fora, fechei o caderninho de ideias, onde rascunhava o que viria a ser este post. Michele me gritou para ver que estava chovendo e que o céu estava azulzinho. Aproveitamos alguns pingos da chuva, que secaram rapidinho. E claro, fotografamos. O rascunho era sobre o que ouvi nos stories do Wolney Fernandes (um colagista incrível), onde falava da sua dificuldade de criar perante as notícias atuais e percalços da vida. Mas algo que ele frisou me chamou a atenção, a palavra: CONTINUAR. E a importância de se manter em movimento.

      Associei na hora ao livro Keep Going: 10 Ways to Stay Creative in Good Times and Bad (English Edition), do Austin Kleon, que fala sobre manter a criação em andamento, todo dia um pouquinho. Lançado agora em abril, segue a mesma estrutura dos seus outros livros:  Roube como um Artista e Mostre seu Trabalho, todos com 10 capítulos, cujos títulos por sí só ajudam a entender o que é necessário lembrar para se manter ativo e criativo.

      Logo no primeiro capítulo, Keep Going fala sobre o dia da marmota, que ficou conhecido aqui no Brasil por causa do filme Feitiço do Tempo (com Bill Murray). Aliás, anos antes deste livro, ele publicou um artigo comparando a vida de artista com o filme. O que foi uma baita conexão para o livro. Ele argumenta que não existe um despertar criativo mágico, mas sim uma série de pequenos esforços e pequenas mudanças graduais que moldam nosso caminho. A ideia é  que devemos focar no que temos que fazer e ponto, sem expectativas ou cobranças prévias. Vale muito a leitura do artigo Want to be an artist?.

      Algumas das dicas que ele passa no livro são coisas que já fazemos intuitivamente, ou seja, não é nada mágico ou místico. Basta fazer o que se tem que fazer. Vou comentar algumas delas.

      Ele estimula a fazer listas. Listas básicas para tudo. É a maneira mais simples de descarregar as ideias ou inspirações para o futuro. O próprio livro é uma lista. A newsletter dele também. Ele realmente tem fixação por elas. Todos temos.

      Outra dica, que acreditamos muito por aqui fala da Atenção ordinária + extra. Tudo aquilo que precisamos para fazer um trabalho extraordinário sempre está disponível em nossa vida ordinária. Basta olharmos mais atentamente e nos encantarmos com nossas próprias vidas. É dar algum tempo, espaço e atenção para o que mais importa.

      Como disse Pablo Picasso, A inspiração existe, mas tem que te encontrar trabalhando.

      Nos momentos mais difíceis, o inconsciente sussurra respostas, mas somente se você estiver em movimento. São em épocas estranhas que surgem livros, projetos e artes que tapam os buracos pelo caminho.

      Penso que a dica mais recorrente, e que fica clara, acompanhando o trabalho do Kleon, é ter uma rotina. Ter hábitos diários que te dão um norte. Assim você não cai na armadilha de “não sei o que vou fazer, então não farei nada, amanhã penso nisso”. A rotina ajuda a te lembrar o que precisa ser feito para um dia ideal. Óbvio que não somos robozinhos, mecânicos, sem sal. Temos que ter visão crítica de tudo que lemos e nos aconselham. É rotina e não roteiro. A ideia é organizar, mas nunca esquecer como o improviso é importante.

      Por falar em rotina, lembrei de dois ótimos livros, que abordam o assunto da criatividade e das rotinas por trás disso. São eles: Criativo por Acaso(Todd Henry) e Como ter um dia ideal (Carolina Webb).

      Precisamos sempre ter em mente como equilibrar o mecânico com o espontâneo. Manter bons hábitos e rotinas saudáveis. Em nosso trabalho com a fotografia, sempre levamos essa dualidade em consideração. É preciso ter responsabilidade, mas sem ficar careta. É preciso ter arte, mas também documentar o dia. É saber dosar para não pirar. Sobre essa questão da rotina, podemos até escrever outro artigo. Esse assunto dá muito pano para manga 🙂

      Também lembrei da frase do David Byrne(Como Funciona a Música): “Mais importante que ter alguém para ouvir é não deixar de produzir”.

      O quão importante para a cabeça é se manter ativa e produtiva e não somente consumindo notícias. Ainda lembro  que quando adolescente, pegava o baixo ou a guitarra e tocava sozinho, somente pela diversão. Quando criança, desmontava coisas para aproveitar as peças, juntava com sobras de madeira e virava um robô invencível. É necessário resgatar esse acaso divertido depois de adulto.

      Quem acompanha nossas redes pessoais, sabe que temos como prática a criação de projetos paralelos. Começam pela simples curiosidade, claro que nem tudo é publicável no início. Sejam fotografias fora de nossa zona de conforto ou experimentações artísticas que nos estimulem a ver diferente nossa rotina. Ver o ordinário + extra.

      Uma grande preocupação de hoje em dia, é criar para mostrar pro mundo, divulgar na Internet. Às vezes, criamos coisas mais preocupados em agradar, o que nos desvia do que realmente importa. O importante para a mente se manter sadia é continuar criando. Fazer o que deve ser feito. Levar a sério o que se faz. Mas não se levar TÃO a sério. Fazer somente porque é divertido. E lembrar que brincar ainda é o melhor remédio.

       

      ps: os links para a amazon são indicações de livros que já lemos e gostamos muito. São links afiliados, ou seja, se quiser fazer uma compra através deles, nos ajudará. Mas fique livre para comprar em pequenas livrarias ou sebos queridos.
      colagem frederico motta
      Colagem Manual. Revistas + Papel Pólen. Frederico Motta, 2018

       

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